Balada do Amor e do Ódio

dezembro 19, 2011 at 11:41 pm 14 comentários

O título original do filme espanhol “Balada do Amor e do Ódio”, do diretor e roteirista Álex de la Iglesia, faz referência a um dos versos da canção “Balada de la Trompeta”, que o aclamado ator e cantor espanhol Raphael entoou no longa “Sin um adiós”, do diretor Vicente Escrivá. Na cena em que Raphael canta a música, a qual aparece no filme de Álex de la Iglesia, ele está caracterizado como um palhaço que canta os lamúrios de um passado que não vai voltar mais.

Javier (Carlos Areces), o protagonista de “Balada do Amor e do Ódio”, adora ver Raphael cantando e pode-se dizer que esta canção acaba se tornando o grande tema dele. Ele próprio, já adulto, seguiu a mesma profissão de seu pai e transformou-se em um palhaço. Mas, Javier não é daquele tipo que faz as crianças sorrirem. Ele é o palhaço triste, aquele que sempre recebe bofetadas e que funciona como plataforma para o outro palhaço (que é mais engraçado) brilhar. Javier seguiu este caminho após ouvir o conselho do seu pai, que disse que, pela própria história de vida dele, ele nunca poderia fazer os outros sorrir. E, se um dia ele quisesse buscar a felicidade, deveria ir atrás dela por meio da vingança.

Um conselho estranho para um pai dar, né? Mas, ele não o é se você for analisar bem a tal história de vida de Javier. Ele cresceu acostumado a perder todas as pessoas as quais mais amava. Ainda criança, viu o pai, que foi prisioneiro das tropas do ditador Francisco Franco, morrer. E já adulto, trabalhando no circo, não consegue disputar o amor de Natalia (Carolina Bang), a bailarina que ele tanto ama, pois ela não consegue se livrar do namorado cafajeste – que vem a ser Sergio (Antonio de la Torre), o palhaço com quem Javier divide a cena. É decepção atrás de decepção.

“Balada do Amor e do Ódio” começa a ganhar um pouco de emoção quando Javier decide colocar o seu plano de vingança em prática. É como se ele se transformasse em outra pessoa, como se ele deixasse de ser aquela pessoa cordial e que vivia com medo e passasse a ser alguém que possui extrema coragem e certeza daquilo que quer: a sua felicidade ao lado de Natalia. O grande problema é que, até chegarmos a esse momento, o roteiro de Álex de la Iglesia percorre territórios confusos, que nunca dão uma coerência total à sua história.

Além desse grande problema de roteiro, “Balada do Amor e do Ódio” tem efeitos visuais um tanto artificiais (não sei se isso foi intencional). O filme de Álex de la Iglesia só não é um desastre completo porque o diretor tem que agradecer às performances excelentes de Carlos Areces e de Antonio de la Torre; bem como aos competentes trabalhos de direção de arte, maquiagem, fotografia e trilha sonora que fazem com que “Balada do Amor e do Ódio” seja uma obra que acaba prendendo a sua atenção até o final.

Cotação: 3,0

Balada do Amor e do Ódio (Balada Triste de Trompeta, 2010)
Direção: Álex de la Iglesia
Roteiro: Álex de la Iglesia
Elenco: Carlos Areces, Antonio de la Torre, Carolina Bang, Manuel Tallafé, Alejandro Tejerías, Manuel Tejada, Enrique Villén, Gracia Olayo, Sancho Gracia, Paco Sagarzazu

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14 Comentários Add your own

  • 1. Júlio Pereira  |  dezembro 19, 2011 às 11:57 pm

    É, talvez, minha direção de arte favorita do ano. Visualmente o filme é deslumbrando. E é divertido ver um palhaço matando as pessoas, confesso. Mas tem um problema que incomoda MUITO, que é a transformação repentina do personagem, que soa inverosímel e acelerada demais. Além disso, pra que traduzir o título? Em espanhol é lindo!

    Ainda há quem diga que seja uma alegoria da guerra, que surge de repente e muda tudo. Bem, acho que isso seria inteligente demais pra um filme que se mostra ser frouxo!

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    • 2. Kamila  |  dezembro 20, 2011 às 1:06 am

      Júlio, realmente, visualmente, o filme é deslumbrante. Concordo em relação à transformação repentina do personagem e concordo também em relação ao título. E perfeita sua conclusão! 🙂

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  • 3. Amanda Aouad  |  dezembro 20, 2011 às 1:39 am

    É, ainda bem que não fui ver esse filme no cinema, talvez um dia.

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  • 4. João Linno  |  dezembro 20, 2011 às 2:01 am

    Por mais estranho que possa parecer, eu gostei. Fui preparado para ver um trash total e acabei me surpreendendo com a performance do elenco e com o excelente visual do filme. O problema dele é realmente o roteiro que se perde em algumas conclusões repentinas e sem sentido.

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  • 5. Alan Raspante  |  dezembro 20, 2011 às 11:12 am

    Tem cara ser bem estranhão mesmo. Vou ver mais por curiosidade mesmo, sei lá… Bem, verei sem expectativas!

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    • 6. Kamila  |  dezembro 21, 2011 às 2:16 am

      Amanda, pois é! Ainda bem que você não viu no cinema. Acho que, no final, a obra acaba funcionando melhor em casa mesmo.

      João Linno, eu não gostei do filme, como meu texto dá a perceber. Gostei bastante, no entanto, do visual da obra.

      Raspante, muito estranho mesmo!

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  • 7. Paulo Ricardo  |  dezembro 20, 2011 às 3:11 pm

    O mesmo cinema espanhol que te envolveu(“A Pele Que Habito”) é capaz de não agradar(“Balada do Amor e do ódio”).Isso é cinema.Emoção e sentimentos 😉 Vou entrar na “maratona Oscar 2011” e esse filme vai ficar fora(se bem que eu prometo não ver alguns filmes e no final vejo rss)

    Beijos

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  • 8. CeloSilva  |  dezembro 20, 2011 às 9:07 pm

    Bom, achei um filme bom, me agrada bastante esse estilo tresloucado e não me incomoda nenhum pouco as transformações do personagem, mas deve ser questão de afinidade mesmo, o estilo me cativa.

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    • 9. Kamila  |  dezembro 21, 2011 às 2:17 am

      Paulo, pois é, mas isso ocorre em todas as cinematografias. Infelizmente, não dá sempre para agradar todo mundo! 🙂 Como você bem disse: é cinema, emoção e sentimentos. Beijos!

      Celo, eu não gostei. E deve ser questão de afinidade mesmo!

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  • 10. Cleber  |  dezembro 21, 2011 às 2:25 am

    – eu tenho um certo interesse por esse filme desde veneza ano passado, ele já deve estar pra sair em dvd (ou já saiu, rs?) e eu vejo assim que puder.

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  • 11. bruno knott  |  dezembro 21, 2011 às 4:18 am

    sinceramente, vou passar batido por esse.

    no imdb ele até não está tão mal, nota 6.5… mas dps de ler sua critica acho que não é algo que eu queira ver tão cedo!!

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  • 12. João Paulo Rodrigues  |  dezembro 21, 2011 às 10:37 pm

    Milla … realmente da parte do cinema em espanhol, o Alex de la Iglesia não bate com o seu santo eheheheh.
    Mas sem duvida vou buscar o dvd quando ficar baratim e assistir tranquilo. Estou devendo E MUITO com o cinema espanhol esse ano.

    Beijim

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    • 13. Kamila  |  dezembro 21, 2011 às 11:35 pm

      Cleber, acho que ainda deve demorar um pouco pra sair em DVD.

      Bruno, tenho receio em relação a esse tipo de coisa. Não tome meu texto como opinião universal. Sou do time que acha que você deve assistir ao filme e tirar sua própria conclusão sobre ele.

      João, com certeza! rsrsrsrs Beijo!

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  • 14. Os Piores Filmes de 2011 « Cinéfila por Natureza  |  dezembro 27, 2011 às 12:40 am

    […] “Balada do Amor e do Ódio” tem efeitos visuais um tanto artificiais (não sei se isso foi intencional). O filme de Álex de la Iglesia só não é um desastre completo porque o diretor tem que agradecer às performances excelentes de Carlos Areces e de Antonio de la Torre; bem como aos competentes trabalhos de direção de arte, maquiagem, fotografia e trilha sonora que fazem com que “Balada do Amor e do Ódio” seja uma obra que acaba prendendo a sua atenção até o final. (Crítica publicada em 19 de Dezembro de 2011) […]

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Kamila tem 29 anos, é cinéfila, leitora voraz, escuta muita música e é vidrada em seriados de TV, além de shows de premiações.

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