A Suprema Felicidade

novembro 3, 2010 at 10:13 pm 25 comentários

O filme “A Suprema Felicidade”, que foi escrito e dirigido por Arnaldo Jabor, tem início com uma citação de um texto escrito pelo poeta Carlos Drummond de Andrade que diz: “mas as coisas findas muito mais que lindas, estas ficarão”. Tal frase já nos diz muito sobre este longa, uma vez que a história que ele se propõe a contar faz menção justamente a um tempo que já se foi, mas que, neste caso em particular, foi fundamental para a formação do caráter de um jovem.

Está claro que “A Suprema Felicidade” é um filme marcado pelo sentimento de nostalgia. Ao contar a história do amadurecimento de Paulinho (que é vivido, na fase dos 10 aos 18 anos, por diversos atores), Arnaldo Jabor nos mostra também que o Rio de Janeiro não é mais o mesmo e, principalmente, que a época em que vivemos não tem mais um caráter de romantismo, de boemia e de alegria. É como se ele tentasse nos revelar o tempo inteiro que, na verdade, a tal suprema felicidade não passe de uma utopia, uma vez que ela vai ter término também – por ser uma sensação quase que instantânea.

Com um roteiro baseado nas próprias lembranças do diretor e roteirista, “A Suprema Felicidade” é uma obra que evoca justamente um sentimento de um homem que faz um balanço em sua vida e que volta no tempo para ver uma época em que tudo era apaixonante, em que tudo parecia excitante, em que tudo parecia possível. Por isso mesmo, o filme carrega muita melancolia em si – sensação esta que é reforçada pelas ótimas performances de Marco Nanini e da jovem Tammy di Calafiori.

O problema maior em fazer um filme como esse é que “A Suprema Felicidade”, em muitos momentos, se entrega a um ritmo que é muito arrastado, em que a história não parece evoluir muito. Um outro grande equívoco de Jabor foi escalar atores fracos como Jayme Matarazzo para papeis importantes – Maria Flor, uma atriz que tem talento, é outra que não está num bom momento aqui. Poderíamos citar também a falta de conclusão da história como um terceiro ponto a se destacar em “A Suprema Felicidade”. Entretanto, por estarmos diante de um filme cujo tema central é a nostalgia, não ter uma conclusão é algo que entra totalmente dentro desta proposta de Jabor – afinal, se pensarmos bem, a gente decide se lembrar daquilo que a gente quer, a gente se apega àquelas lembranças que nos fazem mais bem. Talvez, para o nosso personagem central, a última imagem que ele gostaria de guardar é justamente aquela que acabamos vendo…

Cotação: 5,0

A Suprema Felicidade (2010)
Direção: Arnaldo Jabor
Roteiro: Arnaldo Jabor
Elenco: Marco Nanini, Dan Stulbach, Mariana Lima, Elke Maravilha, Jayme Matarazzo, Michel Joelsas, João Miguel, Maria Flor, Emiliano Queiroz, Tammy di Calafiori, Maria Luisa Mendonça, Ary Fontoura

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Lendo – “Clarice Lispector – Entrevistas” Dia do Cinema Brasileiro

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  • 2. Renan Canuto  |  novembro 3, 2010 às 10:45 pm

    Só me anima pelo fato de ter o soberbo Marco Nanini no elenco. Nunca vi filme algum do Jabor e suas crônicas partidárias às terças-feiras, normalmente, me deixam com certa raiva deste pseudo-cineasta – demasiadamente tucano.

    Enfim, se eu conseguir relevar suas colunas exageradamente tendenciosas (sim, estou repetitivo!), talvez consiga ir ao cinema ver este filme.

    Ah, pela resenha, me parece que quem tiver entre 40 e 50 anos deve curtir mais o filme – pelo fato de retratar o Rio da década de 50.

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  • 3. alan raspante.  |  novembro 3, 2010 às 10:56 pm

    eh, o filme pelo visto não vem mesmo agradando, talvez eu veja…não sei ainda.

    abs 😉

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  • 4. Brenno Bezerra  |  novembro 3, 2010 às 11:05 pm

    Sexo, tabaco, nudez e imoralidade verbal colocados em doses sem noção em uma trama não desenvolvida. Jayme Matarazzo está péssimo. Não sei até que ponto Hollywood está perdendo por não valorizar o cinema brasileiro, mas, no quesito atores, eles perdem bastante, pois aquela performance de Marco Nanini é a única coisa admirável no filme.

    Beijos

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    • 5. Kamila  |  novembro 3, 2010 às 11:41 pm

      Renan, o Marco Nanini está excelente neste filme. Me atreveria a dizer que ele é a melhor coisa do filme. Acho que o pessoal mais antigo deve gostar mais deste longa. Na sala de cinema em que eu estava, era a pessoa mais nova assistindo. O resto, tinha entre 40 e 60 anos.

      Raspante, pois é. Abraços!

      Brenno, concordo que o Nanini é a única coisa admirável do filme. Beijos!

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  • 6. Otavio Almeida  |  novembro 3, 2010 às 11:32 pm

    Bela análise! Mas ainda não vi o filme. Vou tentar neste fim de semana, apesar de priorizar “Scott Pilgrim” e “Um Parto de Viagem”. Bjs!

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    • 7. Kamila  |  novembro 3, 2010 às 11:41 pm

      Otavio, obrigada! Eu priorizaria estes dois outros filmes também, se fosse você. Beijos!

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  • 8. Leandro  |  novembro 3, 2010 às 11:41 pm

    Eu fiquei inicialmente curioso pelo fato de nas chamadas parecer um filme bastante charmoso,mas como nos comentários que ando lendo por aí até esse tal charme do filme parece ir por água abaixo.
    Perdi a empolgação,Abraços

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    • 9. Kamila  |  novembro 4, 2010 às 1:08 am

      Leandro, eu também achava que se tratava de um filme bastante charmoso, mas estava completamente enganada! Abraços!

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  • 10. Amanda Aouad  |  novembro 4, 2010 às 1:39 am

    Marco Nanini é a melhor no filme. Acho que mais do que uma conclusão para a história, falta uma história mais organizada. Só o clima nostálgico é pouco para nos envolver.

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  • 11. Paulo Ricardo  |  novembro 4, 2010 às 2:11 am

    É o filme brasileiro mais criticado do ano.Arnaldo Jabor pôs sua carreira em risco com esse filme.Quando digo carreira é a de cineasta e não de jornalista(gosto dos comentários dele no Jornal da Globo).Esse filme Kamila tem cheiro e jeito de velho.Uma história velha,um filme que parece ter sido feitos nos anos 70 e um diretor que perdeu a intimidade com a camera.O nosso país hoje é outro.Adeus Jabor,Barreto,Diegues,Joffily e Massaini.O cinema brasileiro atual reflete o que vivemos.É um cinema que recebe 4 indicações ao Oscar e é copiado pelo mundo todo(Cidade de Deus),é o cinema da “descoberta de um país”e aplaudido de pé em Sundance e laureado com cum Urso de Ouro em Berlim(Central do Brasil),o cinema que reflete a vida dos jovem da periferia paulistana e vence Palma de Ouro em Cannes(Linha de Passe) e também o cinema nacional pode ser politico e ganhar outro Urso de Ouro em Berlim(Tropa de Elite).Chega de cinema para estrangeiro ver.Sou da geração que vive o melhor momento da história do cinema nacional.Beijos Kamila.

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  • 12. Cristiano Contreiras  |  novembro 4, 2010 às 6:05 am

    Este não quero ver tão cedo!

    Acho Tammy di Calafiori péssima, sempre. E Matarazzo pior ainda…nunca fui apreciador de nada de Jabor – com uma coisa ou outra, talvez, que me chamasse atenção. E, ainda, colocam a chata da Elke Maravilha no elenco? Credo!

    Beijo!

    Responder
    • 13. Kamila  |  novembro 4, 2010 às 11:09 am

      Amanda, realmente, faltou organização maior à história. Ela parece uma colagem de lembranças.

      Paulo Ricardo, não acho que o estilo de Jabor esteja ultrapassado. A forma dele de filmar é mais clássica, mas faltou a ele se atualizar um pouco antes de fazer este filme, até porque ele estava distante do ofício de diretor há muito tempo. Beijos!

      Cristiano, mas a Tammy até que está muito bem aqui e se destaca. O Matarazzo tá horrível mesmo. Um ator completamente inexpressivo. E a Elke Maravilha pouco faz no filme. Quase que não a reconheço, digo a verdade… Beijo!

      Responder
  • 14. Cassio  |  novembro 4, 2010 às 11:36 am

    Puxa, Kamila respirei poesia quando da leitura deste post. Está belíssima tua crítica.
    Contudo, apesar da NOTA 5, não imaginas tu o quanto me convencestes a assistir este filme.
    Grande abraço.
    😉

    Responder
  • 15. Reinaldo Matheus Glioche  |  novembro 4, 2010 às 12:25 pm

    Perfeita síntese Ka. Vc abordou perfeitamente as virtudes e defeitos do novo trabalho de Jabor.
    Bjs

    Responder
  • 16. cleber eldridge  |  novembro 4, 2010 às 12:29 pm

    O cinema brasileiro, continua decepcionante.

    Responder
    • 17. Kamila  |  novembro 4, 2010 às 4:33 pm

      Cassio, obrigada. E, que bom que, apesar de uma opinião discordante, você se interessa em assistir ao filme. Abraço!

      Reinaldo, obrigada! Beijos!

      Cleber, claramente, pelo seu comentário, dá para perceber que você não segue o cinema brasileiro. Estamos vivendo um excelente momento, mas este é um exemplo de obra que é uma exceção. E isso tem em qualquer cinematografia.

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  • 18. Luis Galvão  |  novembro 4, 2010 às 5:38 pm

    Críticas bem mornas, é verdade. Fico curioso para vê mesmo que não goste muito do cinema do Jabor (acho que só um com Fernanda Torres eu realmente gosto bastante).

    Responder
    • 19. Kamila  |  novembro 4, 2010 às 7:34 pm

      Luís, não era muito familiarizada com o cinema do Jabor e confesso que não me entusiasmei muito com esse filme.

      Responder
  • 20. The Ultimate Elke Maravilha guide.  |  novembro 7, 2010 às 4:32 am

    […] A Suprema Felicidade « Cinéfila por Natureza […]

    Responder
  • 21. Don’t Elke Maravilha without reading this!  |  novembro 7, 2010 às 4:44 am

    […] A Suprema Felicidade « Cinéfila por Natureza […]

    Responder
  • 22. Rafael Carvalho  |  novembro 7, 2010 às 4:40 pm

    Kamila, eu preciso assistir a mais coisas do Jabor, conheço muito pouco da obra dele. E confesso que o trailer desse filme não me animou muito, não. Soou meloso demais, distante dos filmes que ele costumava dirigir antes, que eram mais punks. Mas posso estar errado, só tirarei a dúvida quando vir o filme.

    Responder
    • 23. Kamila  |  novembro 7, 2010 às 11:36 pm

      Rafael, eu também preciso assistir a mais coisas do Jabor. O filme é meloso, sim. E muito nostálgico…

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  • 24. Vulgo Dudu  |  novembro 8, 2010 às 1:49 pm

    Nunca gostei do Jabor. Nem como cineasta, muito menos como comentarista. Bastou-me ver algumas matérias sobre o filme para ficar com essa má impressão de que se trata de uma produção insosa. Nem tô com vontade de ver.

    Bjs!

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    • 25. Kamila  |  novembro 8, 2010 às 9:13 pm

      Dudu, eu assisti por curiosidade e falta de opção mesmo. Beijos!

      Responder

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A autora

Kamila tem 29 anos, é cinéfila, leitora voraz, escuta muita música e é vidrada em seriados de TV, além de shows de premiações.

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