As Testemunhas

janeiro 9, 2010 at 6:08 pm 14 comentários

O roteiro de “As Testemunhas”, que foi escrito pelo diretor André Téchine e por Laurent Guyot e Viviane Zingg, se passa na década de 80, mais precisamente em 1983/1984, quando o mundo estava começando a se deparar com uma doença cujas causas e implicações eram desconhecidas: a AIDS. Para tanto, o filme lança um olhar sob quatro amigos: o casal Mehdi (Semi Bouajila, excelente) e Sarah (Emmanuelle Béart), que acabam de ter o primeiro filho; o médico Adrien (Michel Blanc, numa performance muito boa) e o jovem Manu (Johan Libéreau). 

Cada um deles, vive um conflito particular. Sarah, por exemplo, não consegue ficar à vontade no papel de mãe e negligencia o filho recém-nascido o tempo inteiro em prol do trabalho como escritora. Adrien está apaixonado por Manu, faz de tudo para conseguir concretizar esta paixão, mas o jovem não dá sinais de que irá ceder aos seus caprichos. Mehdi é um policial que cuida do filho no lugar da esposa, tem toda uma pose de machão, mas acaba se entregando a um relacionamento amoroso com Manu (Johan Libéreau). 

O filme toca em outros temas, como a questão da noite parisiense; das figuras que fazem essa noite; das mulheres da vida, profissionais que são “perseguidas” pelas operações promovidas pela equipe de policiais lideradas por Mehdi. Mas, voltando à questão principal abordada por “As Testemunhas”, o longa ganha em densidade a partir do momento em que Manu é diagnosticado com AIDS e vemos os relacionamentos pessoais dessas quatro pessoas se desmoronarem, se reconstruírem e completarem, de certa forma, um ciclo – tendo como pano de fundo uma mostra daquela realidade confusa, uma vez que a doença era algo novo e causou comoção entre as pessoas. 

O lado mais interessante de “As Testemunhas” é que, apesar dos relacionamentos que vemos em tela serem cheio de rachaduras, todos eles são envoltos de um aspecto importante: o amor ou seja lá como se chama o sentimento que une todos os personagens é totalmente incondicional e cheio de devoção. Eles estão dispostos a se esforçar, a melhorar e a perdoar. Eles são abertos diante das oportunidades na medida em que elas aparecem para eles, sem medo de ser felizes. E isso é uma atitude rara nos dias de hoje. 

Cotação: 6,8

As Testemunhas (Les Témoins, 2007)
Diretor: André Téchiné
Roteiro: André Téchiné, Laurent Guyot e Viviane Zingg (com base na ideia de Michel Camesi e Jamil Rahmani)
Elenco: Michel Blanc, Emmanuelle Béart, Sami Bouajila, Julie Depardieu e Johan Libéreau    

Entry filed under: Cinema.

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14 Comentários Add your own

  • 1. Madame Lumière  |  janeiro 9, 2010 às 7:25 pm

    Fiquei interessada no filme pois o desconhecia. O mundo anda tão insensível que nem doenças parecem sensibilizar algumas pessoas ao redor, talvez porque chega uma hora que não é mais possível sentir dor de tão anestesiados que ficamos com a nossa própria dor.

    Com sua resenha, me interessa o fato de que as relações em “As Testemunhas” são baseadas em um amor incondicional em um contexto de Aids. O preconceito ainda existe e muito!

    Bjs da Madame!

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  • 2. bruno knott  |  janeiro 9, 2010 às 8:17 pm

    pois é… eu tb não conhecia esse filme e me interessei bastante. vou procura-lo.

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  • 3. Luis Galvão  |  janeiro 10, 2010 às 12:04 am

    Eu adoro o cinema françês, e quando ele toca em temas tão difícieis para todos acho que eles surpreendem por mostrar vários lados do mesmo drama. Espero poder conferí-lo, deve valer a pena.

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    • 4. Kamila  |  janeiro 10, 2010 às 3:23 am

      Madame Lumière, com certeza. E o preconceito ainda existe dentro do próprio filme, em figuras como Mehdi, por exemplo. Beijos!

      Bruno K., procure e espero que goste dele.

      Luís, eu também adoro o cinema francês. Vale, sim, a pena, mas assista sem grandes expectativas.

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  • 5. Reinaldo Matheus Glioche  |  janeiro 10, 2010 às 12:34 am

    Taí um filme que à época de seu lançamento não me despertou interesse, mas que agora deu vontade de ver.
    Bjs KA!

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  • 6. Robson Saldanha  |  janeiro 10, 2010 às 3:18 am

    Vi que está no cinecult mas não tive muita vontade de conferir!

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    • 7. Kamila  |  janeiro 10, 2010 às 3:23 am

      Reinaldo, espero que o assista, então. Beijos!

      Robson, foi justamente lá que o assisti.

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  • 8. Vinícius P.  |  janeiro 10, 2010 às 4:31 am

    Como adoro o cinema francês, certamente devo conferir esse filme quanto tiver oportunidade, até porque fiquei curioso pela história após ler seus comentários.

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  • 9. Wally  |  janeiro 10, 2010 às 6:08 am

    Confesso que estou muito curioso em torno do filme, mesmo que os comentários diante dele não sejam dos mais animadores. Como o Vini, amo o cinema francês.

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  • 10. Raphael  |  janeiro 10, 2010 às 6:20 am

    Olá Kamila, convido vc e todos seus leitores a acompanhar via cinepapo a cerimonia do globo de ouro de 2010 no dia 17 de janeiro no site:
    http://www.cinedica.com.br
    Entra lá e confira. Nosso site é para amantes de cinemas como você e seus leitores.
    Grande abraço, RP do CINEDICA

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    • 11. Kamila  |  janeiro 10, 2010 às 10:28 pm

      Vinícius, eu também adoro o cinema francês.

      Wally, eu também estou nesse time dos amantes do cinema francês.

      Raphael, obrigada pelo convite, em meu nome e dos leitores do blog.

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  • 12. Mayara Bastos  |  janeiro 10, 2010 às 5:01 pm

    Lembro que tive certa curiosidade de ver este filme, mas ficou muito pouco tempo em cartaz por aqui. Apesar que é complicado o lançamento do DVD, infelizmente, por que ou demora ou chegam a nem lançar. Infelizmente não é nós, é a própria distribuidora que não bota fé não só neste filme, mas também de outras produções.

    Beijos! 😉

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  • 13. Alex Gonçalves  |  janeiro 10, 2010 às 9:55 pm

    Já eu achei esse filme uma bomba! O pior exibido nos cinemas no ano passado, sem qualquer aspecto interessante a não ser pelo dado que ele se baseia.

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    • 14. Kamila  |  janeiro 10, 2010 às 10:29 pm

      Mayara, aqui ainda ficou umas duas semanas em cartaz, mas a questão da distribuição é algo sério. Beijos!

      Alex, NOSSA!!! Discordo!

      Responder

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A autora

Kamila tem 29 anos, é cinéfila, leitora voraz, escuta muita música e é vidrada em seriados de TV, além de shows de premiações.

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